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Militares de outros estados participam da Intervenção Federal no Rio
São 44 oficiais de diversos estados que vierem contribuir com suas experiências profissionais
Em fevereiro deste ano, foi decretada a Intervenção Federal na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. Além dos militares já lotados nos quartéis do estado, dezenas de profissionais das Forças Armadas deixaram suas esposas e filhos, muitos em idade escolar, para atender à missão de reduzir os índices de criminalidade e garantir um ambiente seguro e estável à população fluminense. São militares de todos os cantos do Brasil, do Oiapoque ao Chuí. A maioria está alojada em três locais: Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias, no Leme; Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca; e Forte de São João, em Copacabana.
No total são 44 militares, sendo nove da Secretaria da Intervenção Federal e 35 da Secretaria de Administração do Gabinete de Intervenção Federal (GIF). Com as idas e vindas da vida militar, muitos conhecem as grandes capitais brasileiras e têm passagem pelo Rio de Janeiro, por causa de cursos de aperfeiçoamento ou dos planos de movimentações das Forças Armadas. No entanto, atuar em uma operação inédita, dentro do próprio país, acarreta uma grande responsabilidade e longos tempos de afastamento das famílias. Para matar as saudades, os caminhos são o retorno as suas casas, pelo menos de 15 e m 15 dias, ou o uso das redes sociais e dos aplicativos de mensagem.
Na lista dos militares, há até um fluminense que, por conta da missão, retornou ao seu estado de origem. Nascido em Niterói, o Major Carlos Alberto Silva da Cruz, de 42 anos, veio de Manaus, do 12º Batalhão de Suprimentos. Na capital do Amazonas desde o fim de 2016, a vida já estava completamente estruturada, quando foi designado para vir ao Rio de Janeiro. Por conta da distância, decidiu trazer toda sua família, a esposa e os dois filhos, uma menina de 10 anos e um menino de apenas 2 anos. “A presença da família faz uma grande diferença, mas a missão é nobre. Não pretendia vir ao Rio agora. No entanto, me sinto honrado em poder ajudar neste momento, principalmente por ser do estado e já ter convivido com a violência daqui”, declara.
Hoje, coordenador de execução orçamentária da Secretaria de Administração do GIF, o Major Cruz ressalta que a experiência profissional está sendo incrível. “Criamos códigos e cadastros. Quando chegamos a uma unidade do Exército, encontramos tudo pronto. Aqui, tivemos que iniciar uma unidade administrativa do zero”, pontua.
Natural da cidade mineira de Paracatu, o Subtenente Délcio Correia de Andrade, de 47 anos, estava no 6º Depósito de Suprimentos, em Salvador, na Bahia, quando foi designado para a Intervenção Federal. Casado e com dois filhos, uma menina de 10 anos e um menino de 5 anos, o Subtenente tomou uma decisão ao saber que sua próxima missão seria no Rio de Janeiro: voltar para casa todo fim de semana. “Não abro mão de estar com minha família. Prometi que estaria em Salvador sempre que fosse possível, e tenho conseguido cumprir a promessa”.
O Subtenente Correia explica que a filha de 10 anos já compreende a importância da missão. No entanto, o filho mais novo sempre o questiona sobre seu trabalho no Rio. “Digo que estarei de volta em breve”. Conhecedor de muitas cidades do Brasil, o Subtenente conta que já esteve em vários lugares, como Goiás, Amazonas e São Paulo. Esteve também em Angola, mas a participação na Intervenção Federal tem sido de muitos aprendizados. Atualmente, trabalha com Termos de Execução Descentralizada. São processos que dão fundamentação jurídica e legal para que o Gabinete de Intervenção Federal possa repassar recursos para outros órgãos. “Após quatro meses, já domino bem o trabalho. Acredito que, na Intervenção, as partes administrativa e operacional são importantes. Elas se complementam”.
Cearense de Fortaleza, o 2º Sargento Francisco Antônio Petrola Balduíno, de 36 anos, estava servindo em Natal, no 7º Batalhão de Engenharia de Combate, quando foi chamado para o Rio. “Não esperava, mas me senti gratificado com a missão. Sabemos que foram escolhidos os melhores de cada parte do país e isso me deixou honrado”, afirma. Casado e com duas crianças, uma menina de 12 anos e um menino de 9 anos, o Sargento recebeu o apoio da família, incluindo o sogro militar que hoje mora em Fortaleza, mas é nascido no Rio de Janeiro e ex-morador do Complexo do Alemão. “Apesar das dificuldades, todos entendem a situação. Minha esposa está sobrecarregada, pois trabalha o dia inteiro fora de casa. No entanto, ela tem conseguido fazer os ajustes necessários à rotina familiar”, observa o militar, que trabalha na Coordenadoria de Apoio a Fase Interna.
Para matar as saudades dos filhos, o 2º Sargento Balduíno, que é formado em Administração, usa as redes sociais, em especial o Whatsapp. “Nós nos falamos todos os dias. Já pela manhã, fazemos o primeiro contato. Quando estou em casa, faço questão de ficar com eles”. O Sargento ainda ressalta que, por conta da rotina militar, suas crianças já estudaram e moraram em mais lugares do que o próprio, antes de entrar para o Exército. “Quando estive em missão no Haiti, conversei muito com meus filhos e disse que estava indo ajudar pessoas muito carentes. Para explicar a Intervenção no Rio, comparei a missão com a do Haiti, e eles entenderam. Ficaram satisfeitos. Era o momento de ajudar o país”.
Morador de Brasília há dez anos, mas catarinense de Porto União, o Capitão Vitor Mormello Júnior, de 51 anos, tinha retornado há sete meses da missão do Haiti, quando soube que viria para o Rio de Janeiro. Apesar da surpresa, entendeu que o objetivo era nobre: ajudar a melhorar um pouco a vida de outras famílias. Um dos grandes desafios para o Capitão Mormello foi a adaptação ao estado. A solução foi alugar um apartamento na Zona Sul da cidade, com um companheiro de trabalho, ao invés de ficar em um alojamento. “Após uma certa idade, é difícil se adaptar à coletividade”, acredita. No entanto, a principal preocupação foi com o filho mais novo, de 8 anos. “Fiquei preocupado com a reação dele, porque tinha acabado de retornar do Haiti, com a promessa de que não ficaria mais tanto tempo longe”. Para deixar o filho mais tranquilo, o militar começou a enviar fotos do local para que o menino se sentisse mais seguro.
Hoje, é responsável pela nomeação e exoneração dos cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS). “O esforço pessoal é imenso, mas quero ir até o fim da missão”, diz o oficial. Após a Intervenção, pretende voltar para Brasília e, em um breve futuro, para Curitiba, onde o filho mais novo deverá frequentar uma Escola Militar. “Quero que ele tenha todas as oportunidades”, destaca o Capitão Mormello, que também é pai de outros três filhos. Nos planos futuros, há também uma viagem: agora para Disney, para aproveitar com a família.
Há apenas três meses em Brasília, servindo no 11º Depósito de Suprimento, o Tenente-coronel Francisco Holívar Pereira Canuto, de 41 anos, ficou surpreso com a designação para o Rio de Janeiro, principalmente porque as movimentações costumam ocorrer após uns dois anos de guarnição militar. Nascido em Fortaleza, no Ceará, o militar e a família estavam se estruturando na capital federal. “Foi uma situação difícil, pois nunca ficamos tanto tempo afastados. Mas a vida militar é de aprendizados. Espero que nosso trabalho traga bons frutos e que estes possam ser colhidos pelos Órgãos de Segurança Pública e também pela sociedade”, destaca o oficial, que hoje trabalha na Coordenadoria-Geral de Licitações.
Com esposa e uma filha de 10 anos, o Tenente-coronel Holívar tenta ir para Brasília de 15 em 15 dias para encontrar a família. Mesmo com as dificuldades, se diz um privilegiado, em comparação com a situação de outros colegas. “Brasília está perto do Rio de Janeiro. Em uma hora e 40 minutos de voo chego à cidade. Outros companheiros moram em locais mais distantes e muitas vezes dependem de vários transportes pra chegar nos seus destinos”. As redes sociais têm também ajudado o militar no contato com a família. “Com o advento das redes sociais, ficou mais fácil. Uso mais os aplicativos. Faço chamadas de vídeo e de voz para matar a saudade”. Na volta definitiva à Brasília, quer desfrutar seu tempo com a esposa e a filha, que quer ser médica veterinária. “A decisão será dela. Quero que ela seja sempre feliz, que continue sendo uma menina alegre”.
Chefe da Secretaria de Administração do Gabinete de Intervenção Federal, o General Laélio Soares de Andrade elogia o empenho de todos que estão dedicados à Intervenção Federal. “O sacrifício imposto demonstra o elevado nível de comprometimento de toda a família militar com o esforço da Intervenção Federal para melhorar as condições de Segurança Pública da população do Estado do Rio de Janeiro”, finaliza.